quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Nossa Língua Portuguesa

Olá a todos!

Gostaria de começar o texto de hoje com um poema de Olavo Bilac, mas antes creio que seja importante tecer algumas notas acerca do autor do texto.

Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (Rio de Janeiro, 16 de dezembro de 1865 – Rio de Janeiro, 28 de dezembro de 1918). Foi jornalista, poeta, crítico, membro do Conselho Superior do Departamento Federal e inspetor da Instrução Pública. É conhecido pela sua participação cívica; era republicano, nacionalista, abolicionista e boêmio. Escreveu a letra do Hino à Bandeira. Defendia o serviço militar obrigatório como forma de combate ao analfabetismo. É membro fundador da Academia Brasileira de Letras, tendo ocupado a cadeira 15. Considerado um dos poetas mais importantes da escola parnasiana nacional.

LÍNGUA PORTUGUESA

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amote assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

Desculpo-me pela longa introdução, mas precisava declarar minha admiração por este vernáculo e expressar a tristeza pelo tratamento que lhe dão atualmente. Isso sem falar nesse acordo ortográfico, que em minha opinião serviu apenas para complicar mais as coisas.

Às vezes parece que falar errado é engraçado, prova disso é a enxurrada de material nas páginas da internet, nos programas ditos de humor na televisão ou no rádio, com exibição de “comediantes” que adotaram um modo de falar totalmente esquisito.

Muitos podem alegar que é a forma como a massa se expressa; que o importante é a mensagem passada; que o objetivo é atingir um público maior etc. etc. etc. Mas o que se cria na realidade é uma mentalidade de que falar e escrever errado é algo aceitável.

Falar e escrever errado não é algo engraçado e muito menos aceitável.

Extirpar essa idéia é função de todos (do governo, dos meios de comunicação e de todos nós). O governo, como preconizado na Constituição Federal, deve promover políticas de educação, facilitação e incentivo à leitura. Os meios de comunicação, oferecer em sua grade de programação conteúdo didático, (algumas até oferecem, mas nos horários em que o público principal não tem acesso). Cabendo a nós incentivarmos as pessoas que estão ao nosso redor a lerem, falarem e escreverem corretamente; ou mesmo a nós próprios. Qual o último livro  que você leu? Qual o último texto que você escreveu? Qual a última vez que você falou errado? Não adianta nada tentarmos mudar alguém sem antes nos corrigirmos.


Não é uma tarefa fácil, mas também não é algo impossível de ser realizado.

Para complicar ainda mais esse cenário tem-se o acordo ortográfico entre os países de Língua Portuguesa, que visa unificar a ortografia entre os países signatários do acordo. Em que pesem os argumentos favoráveis, tais como a unificação da língua escrita e a facilitação na circulação de livros e outros materiais, esse acordo é mais figurativo do que qualquer outra coisa e só veio para atrapalhar.

Inicialmente unificar a escrita não significa unificar a língua. A ortografia é uma pequena parte da língua. O português é uma língua viva, e tem muitas variáveis dependendo do país em que é falado. Uma mesma palavra pode ter um significado no Brasil, outro em Portugal e um terceiro diferente em Angola.

Além do que a unificação da escrita dificulta a identificação da fonética de determinadas palavras. Por exemplo, como explicar para um estrangeiro que na palavra “frequentemente” o “u” deve ser pronunciado enquanto que na palavra “conquista” o “u” não é pronunciado, embora a escrita seja semelhante. Antes da abolição do trema essa tarefa era simplificada, pois no primeiro vocábulo existia o acento, enquanto que no segundo não.

Está certo que nossa língua é difícil, com inúmeras regras, nem sempre sendo possível acertar em todas as frases, mas também não é motivo para extrapolar os limites do razoável e utilizar nossa língua de forma estúpida e ignorante.

Ah! Que Bilac não nos ouça. Não nos leia.


P.S.: Escusas pelo desabafo. Espero ser menos enfadonho nos próximos textos.

2 comentários:

  1. Como é interessante essas ferramentas virtuais, permitem-nos conhecer e compreender melhor as pessoas que nos cercam, mormente os amigos queridos. Não sabia de sua admiração por este poema, tampouco o conhecia. Muito bonito, por sinal.

    A princípio também julguei ser despicienda e desarrazoada essa unificação da ortografia. Mas agora penso que - tirando a desgraça que será a adaptação às novas regras - que foi um passo bastante interessante para a bi-lateralidade (viva o hífen) diplomática entre os países de lingua portuguesa.

    De fato, unificar a escrita não significa unificar a língua (e isso é importante para manter as características culturais de cada país), mas, para que vamos ensinar um estrangeiro que na palavra “frequentemente” o “u” deve ser pronunciado enquanto que na palavra “conquista” o “u” não é pronunciado?

    Para o estrangeiro tenho certeza que o importante é se comunicar.

    Ademais, estou de acordo quando fala que temos que eliminar essa mania de falar e escrever errado.

    Abraço, parabéns pelo blog e pelo domínio do vernáculo tupiniquim.

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  2. Interessantes seus argumentos caro Breno, mas tenho por bem (e até mesmo pelo prazer de um bom debate) discordar.

    Não são meras regras ortográficas, imposta por lei que irão fortalecer laços diplomáticos. Tais relações depende exclusivamente das pessoas envolvida e não do idioma.

    Outro ponto que devo discordar é quanto ao ensino de nosso vernáculo aos estrangeiros. "Si o importante é se comunicar-se, então pra que encinar portugueis? Vamo só passa a mensagem e torcer pra que a gente si entenda."

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